PERFIL PROFISSIONAL DE INSTRUTORES DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA E MUSCULAÇÃO
Professional profile of instructors of the gymnastic and bodybuilding academy
Alfredo Cesar Antunes
PUBLICADO EM: https://www.efdeportes.com/ · FreeFind revista digital · Año 9 · N° 60 | Buenos Aires, Mayo 2003
Resumo
Esta pesquisa procurou identificar o perfil profissional dos indivíduos que orientam atividades de ginástica e musculação nas academias. Foi aplicado um questionário a 130 instrutores de ginástica e musculação de cidades do Estado de São Paulo. Na opinião dos instrutores existe especificidade nas funções que desempenham exigindo preparação específica e domínio de conhecimentos científicos e técnicos. A maioria dos instrutores não tem contrato de trabalho, disputa mercado com não graduados e não tinha graduação quando foi contratada. A experiência profissional não é valorizada. Alguns instrutores, graduados em educação física, consideram esse curso pouco importante na sua preparação considerando a experiência prática mais importante para a capacitação profissional. Muitos instrutores se consideram pouco preparados para assumirem determinadas funções ou para atuarem. Espera-se que haja uma reorganização desse mercado de trabalho que beneficie o profissional e principalmente aqueles que buscam esse serviço.
Unitermos: Academias de ginástica e musculação. Perfil profissional. Preparação profissional
Abstract
This study identified the profile of workers that give orientation activities for gymnastic and bodybuilding in gymnastic academy through a questionnaire applied to 130 instructors in cities of state of São Paulo. In the instructors opinion there is necessity of specific preparation scientific and technical. The majority doesn't have work contract and dispute market place with people that don't have undergraduate professional preparation course. Among the ones who have undergraduate professional preparation course, the majority was student when was hired. The professional experience isn't considered important to stay in the job. Some instructors, with professional preparation course in Physical Education, considered that this program is little important in his preparation and practice is more important for the professional competency. Some instructors considered itself little prepared to perform specific professional activities. Its is expected that with the required certification of this service, will be there a reorganization of the job market
Keywords: Professional profile. Professional preparation. Gymnastic and bodybuilding academy.
https://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 60 - Mayo de 2003
Introdução
A preocupação com a estética corporal e, principalmente, o reconhecimento pela população da importância da atividade física para a saúde e qualidade de vida têm levado as pessoas a procurarem as academias de ginástica e musculação tornando-as um dos locais mais populares e mais procurados para se conseguir tais objetivos. São instituições que devem permanecer e evoluir buscando sempre corresponder as necessidades atuais e futuras da sociedade pelos relevantes serviços que oferecem, pois exercitar-se não é modismo passageiro. A atividade física e o exercício físico são direitos dos cidadãos expressos na Constituição e reconhecidos como importantes fatores para a qualidade de vida das pessoas e não se destinam apenas aos atletas ou a alguns grupos privilegiados.
A área da Educação física não escolar está em desenvolvimento e junto com ela, o espaço de atuação de graduados em Educação Física, pois o conhecimento científico é cada vez mais necessário para o exercício dessa profissão e, hoje, existe grande preocupação com a produção de conhecimentos aplicados, ou seja, direcionados para o profissional que atua no mercado de trabalho. Desse mercado de trabalho, as academias de ginástica e musculação, caracterizam uma significativa parcela sendo uma das principais empregadoras. A proliferação das academias de ginástica e musculação é um fenômeno internacional e, devido à rapidez dessa expansão, um melhor conhecimento desse fenômeno se faz necessário para buscar seu aprimoramento.
O objetivo dessa pesquisa foi identificar o perfil dos indivíduos que orientam atividades de ginástica e musculação nas academias com relação à preparação profissional e conhecimentos específicos necessários para o exercício dessas funções.
Metodologia
O presente estudo teve uma orientação descritiva. Segundo Marconi & Lakatos (1999) a pesquisa descritiva: 'Delineia o que é' abordando "…quatro aspectos: descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente" (p.19).
Teve ainda uma característica exploratória, pois se propôs a buscar idéias e tendências sobre o papel das academias de ginástica e musculação na sociedade atual e a preparação de seus recursos humanos. Segundo Marconi & Lakatos (1999) um estudo exploratório se caracteriza por enfatizar a descoberta de idéias e discernimentos. Assim, pode-se definir este estudo como descritivo-exploratório.
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados e informações um questionário com perguntas abertas do tipo dissertativas e fechadas do tipo múltipla escolha. O instrumento foi validado através de parecer de especialistas e respectiva aplicação de uma coleta-piloto para verificar a validade e fidedignidade do questionário. Os questionários foram aplicados aos instrutores de academias de ginástica e musculação da capital do Estado de São Paulo e de algumas cidades escolhidas propositadamente, por serem importantes economicamente e representativas das suas regiões, também possuem universidades públicas que oferecem cursos de graduação em Educação Física que têm um grande prestígio social, estando entre as mais recomendadas, além disso, estão localizadas a diferentes distâncias da referida capital. Assim, as cidades escolhidas foram Presidente Prudente, Rio Claro, Bauru e Campinas. Este procedimento possibilitou selecionar 130 instrutores de ginástica e musculação como amostra para o estudo.
Apresentação e discussão dos resultados
Experiência profissional
Com relação à experiência profissional verificou-se que 47,69% possuem e 52,31% não possuem registro na carteira de trabalho. Além da situação econômica do país, existe a proliferação de academias clandestinas e empresários que contratam pessoas sem oferecer garantias, muitas vezes, essas pessoas não têm qualificação profissional, sendo uma oportunidade de emprego para elas, dessa forma, aceitam trabalhar sob qualquer condição. Isso pode ser decorrência da falta de organização profissional atuante que fiscalize as instituições que prestam esses serviços.
O número de instrutores é crescente até 30 anos e de 30 a 35 anos já há diminuição desse número. Esses dados indicam a sobre valorização da condição física e aspecto jovial para esse mercado de trabalho, pois quando o profissional adquire experiência e maior possibilidade de conhecimentos o número deles é menor. Além disso, em todas as faixas etárias existem instrutores sem graduação em Educação Física, com exceção da faixa de mais de 40 anos onde todos eram graduados, sendo a maioria proprietários de academias. Pelos dados observados parece que a graduação em Educação Física e a experiência profissional não são primordiais para a atuação profissional nesse mercado de trabalho.
Claro que as pessoas podem se cuidar e ter uma boa condição física em idades mais avançadas, mas, por uma questão sócio-cultural, existe ênfase exagerada na aparência física, principalmente no ambiente das academias, que é muito influenciado pela mídia e pelo culto ao corpo de nossa sociedade (Carvalho, 1995; Courtine, 1995), assim, a competência profissional não tem sido valorizada. Isso cria um problema muito sério para o profissional de Educação Física que trabalha nessas instituições, pois se ele se dedicar exclusivamente à esse ramo de atividade é bem provável que ele ficará desempregado em poucos anos. Coelho Filho (1999), com base no discurso do profissional de ginástica em academia do Rio de Janeiro, verificou que a vida útil desse profissional vai aproximadamente até os quarenta anos (com exceção daqueles que controlam seus processos de envelhecimento). Verificou-se também que a experiência e competência não garantem prestígio e estabilidade no mercado (e sim a juventude aliada à competência) e não há ascensão em função da idade, nem garantias trabalhistas. Assim, esse profissional não tem como vislumbrar uma carreira, pois a profissão é vista como uma ocupação.
Também foi solicitado o tempo de trabalho dos instrutores. Os resultados mostram que 23,08% tem menos de 2 anos de experiência no trabalho, 36,92% tem de 2 a 5 anos, 27,69% tem de 6 a 10 anos, apenas 10,77% tem mais de 10 anos e o restante não respondeu. Esses dados têm relação com a idade e com a valorização exagerada da aparência física jovial, pois se o instrutor com mais idade, principalmente com mais de 35 anos de idade é o que menos se encontra nas academias fica muito difícil este conseguir trabalhar por mais de 10 anos, visto que 21 anos é a idade mínima ideal para o indivíduo começar a trabalhar. Esses dados mostram um problema para o profissional de Educação Física que se dedica a esse ramo de atividade, pois se ele não conseguir vencer esta barreira da idade, provavelmente ficará desempregado.
Preparação profissional
O Nível de escolaridade dos instrutores também foi solicitado em uma das questões. Verificou-se que 64,62% são graduados em Educação Física, 24,62% tem curso incompleto em Educação Física e 3,08% tem graduação em fisioterapia, 1,54% em administração de empresas, 1,54% em odontologia, 1,54% em economia, 1,54% tem somente o segundo grau completo e 1,54% tem apenas o segundo grau incompleto, ou seja, 35,38% não tem graduação em Educação Física. Apesar da maioria dos instrutores ser formada em Educação Física, uma grande parcela não tem essa formação. Esses dados mostram que a qualificação profissional não é o principal requisito para a contratação de um instrutor de ginástica e/ou musculação. Isso mostra, até certo ponto, que os proprietários não acreditam que cursar uma faculdade de Educação Física seja a melhor e mais eficiente forma de preparar o profissional para atuar como instrutor de ginástica e/ou musculação.
O fato de ter 24,62% destes instrutores ainda cursando Educação Física mostra um sério problema, porque se não é necessário terminar o curso para atuar nessa área, ou seja, que os conhecimentos a serem ensinados não são importantes para a atuação do profissional esses cursos não fazem sentido. Com certeza, se isto acontece não é por falta de profissionais diplomados. Esse tipo de atitude é inadmissível eticamente e legalmente em outras áreas profissionais e precisa ser mudada na Educação Física, o que se espera que aconteça com a regulamentação da profissão.
Foi solicitado aos participantes do estudo que respondessem sobre o fator que mais contribuiu para a sua capacitação profissional. Entre os fatores considerados mais importantes cursar Educação Física foi colocado por 64,62% dos instrutores de ginástica e musculação. Praticar esporte e participação em eventos (cursos, simpósios, congressos, etc) foi colocado como o mais importante por 10,77% dos instrutores. Leitura de livros, revistas, etc, foi considerado mais importante por 7,69% dos instrutores e ter atuado como instrutor foi considerado mais importante por 6,15% dos instrutores. Esses dados mostram que a maioria dos instrutores acredita que o curso de Educação Física fornece os conhecimentos necessários para eles atuarem prescrevendo e orientando programas de ginástica e/ou musculação. Porém, 15,38% dos instrutores graduados em Educação Física consideraram outros fatores como os mais importantes para sua capacitação e 15,38% dos instrutores, que ainda estão cursando Educação Física, consideraram que o curso foi o que mais contribuiu para a sua capacitação profissional. Isso mostra que os cursos de Educação Física devem rever seus currículos e procedimentos na preparação profissional.
Em uma das questões foi perguntado aos instrutores graduados em Educação Física quais disciplinas cursadas mais contribuíram na sua preparação profissional. Disciplinas da área de biodinâmica e saúde foram citadas por todos os instrutores graduados em Educação Física como as que mais contribuíram na sua preparação profissional, dentro dessa categoria as mais citadas foram biomecânica (78,57%), anatomia (76,19%), fisiologia geral (66,67%) e fisiologia do exercício (33,33%).
As disciplinas técnicas (incluindo as de práticas esportivas) foram citadas por 61,90% dos instrutores graduados em Educação Física, as mais citadas desse grupo foram treinamento esportivo (42,86%) e medidas e avaliação (23,81%). As disciplinas específicas de ginástica e musculação foram citadas por 30,95% dos instrutores graduados em Educação Física, as mais citadas dessa categoria foram ginástica e/ou musculação (23,81%) e atividades em academia (7,14%). As disciplinas da área de comportamento motor humano foram citadas por apenas 19,04% dos instrutores graduados em Educação Física, as disciplinas citadas foram psicologia (11,90%), psicologia esportiva (4,76%) e aprendizagem motora (2,38%). As disciplinas menos citadas foram as da área de estudos sócio-culturais do movimento humano, ou seja, apenas 4,76% dos instrutores graduados em Educação Física, as disciplinas citadas foram antropologia (2,38%) e sociologia (2,38%). A disciplina de filosofia não foi citada nenhuma vez.
Esses dados mostram a sobrevalorização das ciências biológicas e técnicas em detrimento das sócio-culturais, filosóficas e comportamentais. Fica claro também que essa valorização unilateral acaba sendo repassada aos seus alunos. Pela falta de integração teoria e prática nos currículos, os graduandos se tornam profissionais que não utilizam os conhecimentos, por não entenderem sua relação com a prática.
As disciplinas específicas de ginástica e musculação obtiveram uma baixa porcentagem. Esse resultado é importante, pois, pela lógica, estas disciplinas deveriam estar entre as mais citadas pelos instrutores graduados em Educação Física. Esses dados podem estar relacionados com o não oferecimento dessas disciplinas pelos cursos superiores de Educação Física1 ou por essas disciplinas, quando oferecidas, não fornecerem os conhecimentos suficientes para o graduando atuar como instrutor dessas atividades quando formado.
O questionário permitiu verificar a situação do instrutor antes de ser contratado. Os resultados mostram que 44,62% estavam cursando Educação Física, 26,15% eram apenas atletas e/ou praticantes de ginástica e/ou musculação, 10,77% eram atletas e/ou praticantes e estavam cursando Educação Física e apenas 15,38% já eram graduados em Educação Física. Esses dados tornam mais crítico o quadro com relação à preparação do profissional que atua nas academias de ginástica e/ou musculação. Mostrou-se acima que 64,62% dos instrutores são graduados em Educação Física, mas agora verifica-se que apenas 15,38% desses eram graduados quando foram contratados. Portanto, o problema da preparação profissional atinge a grande maioria dos trabalhadores da área. Novamente, percebe-se a falta de valorização do curso de Educação Física no momento da contratação de um instrutor de ginástica e/ou musculação.
Julgou-se necessário verificar qual a importância que os instrutores atribuem a alguns fatores para a atuação profissional. O conhecimento teórico (científico) foi considerado importante por 98,46% dos instrutores participantes do estudo. O restante não respondeu, ou seja, quase a totalidade dos participantes consideraram esse conhecimento importante. É interessante observar que algumas pessoas que são leigas no assunto pensam que a experiência como praticante ou atleta é suficiente para atuar prescrevendo e orientando programas de atividade física, porém, todos que responderam à questão admitem a importância do conhecimento científico para a atuação profissional.
A experiência como atleta ou praticante foi considerada importante por 47,69%, pouco importante por 43,08% e nada importante por 7,69% dos instrutores, o restante não respondeu. Apesar da maioria considerar esse fator como pouco ou nada importante para a atuação de um instrutor de ginástica e/ou musculação, uma grande porcentagem o considera importante. Além disso, 37,5% dos instrutores que tinham sido atletas ou praticantes de ginástica e/ou musculação consideraram que essa experiência é pouco importante para a atuação de um instrutor dessas atividades. Isso vem confirmar que a prática de uma atividade física é diferente da atuação profissional (prestação de serviço), ou seja, a experiência profissional é adquirida com o exercício da profissão, onde o profissional reflete antes, durante e após a sua prática, elaborando seu próprio conhecimento, utilizando tanto as experiências profissionais quanto os conhecimentos técnicos e científicos (Betti & Betti, 1996; Tani, 1996a). Para atuar de maneira competente não basta o indivíduo repetir o que ele fez como atleta ou praticante, pelo contrário, sendo que todos têm uma individualidade tanto biológica quanto psicológica e cultural, entre outras, para prescrever uma atividade ou exercício físico de forma correta, segura e eficiente é necessário identificar as necessidades e interesses de cada cliente. Os cursos superiores de Educação Física que, apesar de enfrentarem sérios problemas desde a sua origem, existem para isso. Por outro lado, a experiência prática como atleta ou praticante pode ser considerada importante para a preparação profissional desde que seja acompanhada do necessário conhecimento técnico-científico para a competência e eficiência profissional. Segundo Tani (1996b), estudos recentes mostraram que ser um bom executor (ex-atleta, por exemplo) não prepara uma pessoa para ensinar uma habilidade motora, pois uma habilidade é aprendida individualmente, ou seja, é subjetiva e para ser ensinada é preciso ser explicada verbalmente e para isso é necessário dominar teoricamente seus mecanismos e processos.
A boa aparência foi considerada importante por 84,62% dos instrutores, pouco importante por 10,77%, nada importante por 4,62%. A maioria dos instrutores consideram a boa aparência importante, isso pode mostrar a influência do culto ao corpo, por outro lado se trajar adequadamente, cuidar da higiene corporal é muito importante para qualquer profissional. No caso do instrutor de ginástica e musculação a aparência física (estética) pode servir como exemplo e motivação para os clientes. Porém, não é necessário que ele seja o corpo padrão imposto pela mídia. Segundo Pereira (1996), além do instrutor se manter atualizado e informado, a aparência física deve ser coerente com a atividade que executa, o que determina o visual é o público alvo e suas expectativas e, apesar de saber que não se deve julgar as pessoas pela aparência, é preciso cuidar dela para dar credibilidade ao serviço, pois o instrutor é o centro das atenções, por isso ele deve tomar cuidado com suas atitudes e aparência física.
Um bom condicionamento físico e boa coordenação motora foram considerados importantes pela maioria dos instrutores (67,69%), pouco importante para 20% e nada importante para 1,54% e o restante (10,77%) não respondeu. O fato da maioria ter considerado esse fator importante pode estar relacionado com a idéia de que o profissional da atividade física deve ser um exímio executor da atividade que orienta, ou seja, dominar as técnicas e habilidades da atividade. Por outro lado, defende-se que é preciso o instrutor praticar atividade física regular e ter uma boa condição física no que se refere aos aspectos relacionados à saúde, no limite da sua capacidade e individualidade (idade, genética e limitações) para servir como exemplo. Um profissional de Educação Física que não pratica atividade física regular estaria propondo ou defendendo algo que não acredita ou não valoriza.
A facilidade de relacionamento e saber motivar foram considerados importantes por 98,46% dos instrutores (o restante não respondeu), ou seja, por todos os que responderam. Um bom relacionamento está diretamente ligado à motivação do cliente. A vida de uma pessoa é permeada por aspectos externos, que se referem à participação na sociedade e por aspectos internos, que são os significados dessa participação, estes estão ligados a quanto e como os valores, metas e aspirações são reforçados ou violados pelo mundo externo. Cada pessoa tem seus motivos (culturais, sociais, biológicos, psicológicos, etc) intrínsecos para participar de uma atividade física. Por outro lado, as pessoas podem não fazer uma reflexão suficiente para perceberem os reais motivos de adesão à prática de uma atividade física, como por exemplo se influenciarem pelo modismo ou pela mídia (Okuma, 1992). Assim, os instrutores devem ajudar seus clientes a atingirem seus objetivos da melhor maneira possível, através de um bom relacionamento, conhecendo, compreendendo e esclarecendo suas motivações, mas para isso deve respeitar os indivíduos a partir de suas individualidades.
Também julgou-se necessário verificar qual a importância atribuída pelos instrutores aos grupos de conhecimentos para a atuação profissional. Os conhecimentos de biodinâmica do movimento humano e treinamento esportivo foram considerados importante por 93,85% dos instrutores, pouco importante por 4,62% e o restante não respondeu. Esse resultado confirma a importância da mesma para a atuação do instrutor nas atividades de ginástica e musculação e a forte influência dessa área de conhecimento no desenvolvimento da Educação Física. Porém, devem ser utilizados com o auxílio dos demais conhecimentos havendo interação entre eles.
Comportamento motor humano também foi considerado importante pela maioria (92,31%) dos instrutores, apenas 6,15% o consideraram pouco importante e o restante não respondeu. Apesar desse tipo de conhecimento ter sido muito valorizado, segundo Darido (1994) os conhecimentos de aprendizagem motora não têm servido como guias para a atuação profissional. Isso mostra a necessidade urgente da abordagem mais completa desse tipo de conhecimento nos currículos de ensino superior em Educação Física, pois os profissionais acreditam na importância desses conhecimentos para a sua atuação.
Os conhecimentos dos aspectos sócio-culturais do movimento humano foram considerados importantes por apenas 35,38% dos instrutores, a maioria (58,46%) considerou esse tipo de conhecimento pouco importante, 4,62% considerou nada importante e o restante não respondeu. Novamente percebe-se a desvalorização desse tipo de conhecimento. Na corrente positivista que influenciou a área, a ênfase era para a técnica, o racional e o operacional, ficando o homem a segundo plano. Hoje ainda se verifica essa influência, pois em uma área como a atividade física, particularmente nas academias de ginástica e musculação a técnica é ainda muito valorizada. As pessoas procuram as academias por vários motivos além do condicionamento físico como fuga do stress, convívio social e saúde que hoje é entendida como o bem-estar físico, mental, social, espiritual, cultural, etc. A mídia e o consumismo também têm fortes influências na decisão de se procurar uma academia. Assim, a reflexão filosófica e os conhecimentos sócio-culturais deveriam ter a mesma importância dos demais conhecimentos, pois os profissionais devem estar conscientes do seu papel na sociedade e da sua influência na decisão de muitas pessoas em praticar atividades físicas.
Atualização profissional
Em uma outra questão verificou-se qual a importância que os instrutores atribuíam às formas de adquirir os conhecimentos necessários para atuar profissionalmente. Trabalhar sob a orientação de um instrutor mais experiente foi considerado importante por 76,92% dos instrutores, pouco importante por 12,31%, nada importante por 9,23% e o restante não respondeu. Com certeza, a orientação de um profissional mais experiente é fundamental para a preparação profissional de uma pessoa. Pois esse profissional mais experiente poderá acelerar o processo da busca e aquisição de conhecimentos através de suas orientações. Porém, o orientando tem que ter a capacidade de selecionar e refletir sobre os conhecimentos transmitidos analisando se estas informações são fidedignas. Este resultado deixa claro a importância dos estágios profissionalizantes nos cursos de Educação Física. A leitura de livros, revistas e artigos sobre ginástica/musculação foi considerado importante por 90,77% dos instrutores, pouco importante por 6,15% e o restante não respondeu. Sem dúvidas, a leitura é uma das mais eficientes formas de adquirir conhecimentos. Porém, deve existir um guia para se saber quais e onde buscar as fontes certas, além disso, particularmente no caso da área de Educação Física é necessário que se amplie a publicação de revistas que tratem de temas profissionais. Assim, é necessário que os profissionais sejam assinantes dessas publicações.
Fazer estágios foi considerado importante por 83,08% dos instrutores, pouco importante por 12,31%, nada importante por 1,54% e o restante não respondeu. O estágio é o momento de testes do conhecimento adquirido. Porém, deve ser orientado por um especialista no assunto, pois como o orientando ainda não tem domínio do conhecimento o especialista estará alerta para esclarecimentos sobre as formas de atuação e possíveis falhas. É um erro comumente cometido pelas academias colocar um graduando em Educação Física para trabalhar como instrutor sem a supervisão de um especialista e chamar isso de estágio. Na verdade, isso é negligência e má intenção do proprietário que se aproveita da situação do graduando, que busca experiência no mercado de trabalho e é usado como mão-de-obra barata. Espera-se que essa situação se modifique com a regulamentação da profissão.
A participação em eventos (cursos, simpósios, congressos, etc) foi considerado importante por 84,62% dos instrutores, pouco importante por 10,77%, nada importante por 1,54% e o restante não respondeu. Realmente, os eventos científicos também são uma importante forma de adquirir conhecimentos. Contudo, o profissional precisa saber selecionar os que tem objetivos verdadeiros de transmissão e troca de conhecimentos e experiências.
Ter sido atleta ou praticante de ginástica/musculação foi considerado importante por apenas 40% dos instrutores, pouco importante por 46,15%, nada importante por 10,77% e o restante não respondeu. Observa-se que a maioria (56,92%) considerou que ter sido atleta ou praticante era pouco ou nada importante para adquirir conhecimentos para atuar como instrutor de ginástica/musculação.
Como aconteceu na questão que perguntava sobre a importância da experiência anterior como atleta ou praticante para a atuação de um instrutor de ginástica ou musculação, aqui também 37,5% dos instrutores que tinham sido atletas ou praticantes de ginástica e/ou musculação consideraram que essa experiência é pouco importante para adquirir os conhecimentos necessários para atuar como instrutores dessas atividades. Fica claro novamente que praticar uma atividade física é diferente de atuar prescrevendo e orientando exercícios. Praticar uma atividade física mesmo com orientação adequada não garante a aquisição de conhecimentos necessários para prescrever e orientar atividades físicas.
Ser graduado em Educação Física foi considerado importante para adquirir conhecimentos por 89,23% dos instrutores de ginástica e/ou musculação, pouco importante por 6,15%, nada importante por 1,54% e o restante não respondeu. Portanto, a grande maioria considerou importante a graduação em Educação Física para adquirir os conhecimentos necessários para atuar como instrutor de ginástica e/ou musculação inclusive a grande maioria dos não graduados (com exceção de 14,28%) e dos graduandos em Educação Física (com exceção de 9,38%). Apesar de apenas 2,38% dos instrutores graduados e 9,38% dos graduandos em Educação Física considerarem o curso pouco importante para a aquisição de conhecimentos necessários para uma pessoa atuar prescrevendo e orientando exercícios de ginástica e/ou musculação em academias isso serve de alerta para as instituições de ensino superior, pois esses números poderiam ter sido muito maiores, porque segundo a análise dos currículos simultaneamente realizada, a maioria das instituições de ensino superior não está dando a devida atenção para esse ramo de atividade.
Diante dos aspectos analisados, verifica-se, por parte dos instrutores (graduados ou não) uma valorização do curso superior de Educação Física para a aquisição de conhecimentos necessários para uma pessoa atuar como instrutor de ginástica e/ou musculação em academias. O que falta é uma preocupação maior das instituições com uma preparação profissional adequada e uma ênfase maior para esse ramo de atividade física.
Também foi perguntado aos instrutores qual o nível de capacitação que eles próprios julgavam possuir para assumir suas funções. Em todas os itens dessa questão 9,23% dos instrutores não responderam. Um total de 75,38% dos instrutores consideraram-se preparados para assumir a responsabilidade de realizar o diagnóstico anterior à elaboração de um programa de ginástica ou musculação, 15,38% consideraram-se pouco preparados e o restante não respondeu.
Com relação à elaboração de um programa de ginástica ou musculação 80% dos instrutores consideraram-se preparados para assumir essa responsabilidade; 10,77% se consideraram pouco preparados e o restante não respondeu.
A maioria dos instrutores (83,08%) considerou-se preparado para assumir a responsabilidade de orientar sobre a forma correta, eficiente e segura de executar exercícios de ginástica ou musculação; 7,69% consideraram-se pouco preparados e o restante não respondeu.
Para atuar como instrutor de ginástica e/ou musculação 83,08% consideraram-se preparados, 7,69% consideraram-se pouco preparados e o restante não respondeu.
Apesar da maioria dos instrutores julgar-se preparada para as funções deve-se considerar a tendência da pessoa em não se auto avaliar negativamente. Assim, verificou-se que 12,96% dos indivíduos que se consideraram preparados para atuar como instrutor, na verdade não o estão, porque em pelo menos um dos outros itens consideraram-se pouco preparados, ou seja, o instrutor deve estar preparado para assumir todas as funções e não esta ou aquela. Dessa forma, incluindo esses indivíduos aos que se consideraram pouco preparados para atuar como instrutor tem-se uma porcentagem de 18,46% (ao invés de 7,69%) dos que se consideram pouco preparados para atuar e 72,31% (ao invés de 83,08%) que se consideram preparados.
A atualização é fundamental na profissão. Assim, perguntou-se aos instrutores quais as atividades que realizam para se atualizarem profissionalmente. Verificou-se que 86,15% participam de eventos como simpósios, cursos, congressos, palestras e convenções para se atualizarem; 55,38% lêem livros, revistas e artigos científicos da área; 24,62% utilizam a troca de experiências através de reuniões e discussões com outros profissionais; 15,38% cursam pós-graduação; 6,15% dizem que se atualizam praticando ginástica ou musculação; 4,62% dizem que se atualizam através da televisão e através de estágio em outras academias; 3,08% dizem que se atualizam treinando em academias maiores; 1,54% dizem que se atualizam assistindo fitas de vídeo sobre ginástica ou musculação, através da resposta ou reação (feedback) dos clientes e procurando conhecer novos aparelhos e exercícios.
O conhecimento necessário ao profissional de Educação Física tem sido constantemente transformado. As Instituições de Ensino Superior devem preparar um profissional competente para a atuação profissional. Também devem prepará-los para buscar a atualização que necessitam para seu desenvolvimento. A preparação profissional deve ser um processo de constante aprendizado, pois com a possibilidade do conhecimento se tornar ultrapassado e superado, desaparece a formação profissional completa e acabada (Barros, 2000).
Lawson (1984) explica que se os programas de preparação profissional forem planejados exclusivamente para acompanhar a prática atual, então o resultado será muito treinamento e pouca educação. Tais programas devem preparar as pessoas para as mudanças futuras, ou seja, educar. Treinamento e educação são relacionados e compatíveis, mas diferentes e um programa de preparação profissional deve conter ambos.
Os profissionais e futuros profissionais de Educação Física devem desenvolver uma atitude científica (analisar criticamente os conhecimentos produzidos), entender a natureza dinâmica do conhecimento e a necessidade de uma constante atualização, para garantir o futuro desenvolvimento profissional.
Entende-se que treinar em academias maiores ou apenas praticar as atividades de ginástica e musculação não são as melhores formas de atualização dos conhecimentos profissionais, pois a simples prática de atividade física não fornece conhecimentos para a atuação profissional e é diferente da prática profissional que exige conhecimentos específicos para a prescrição e orientação de exercícios físicos. O feedback ou resposta dos clientes não é uma forma de atualização e sim um meio de verificar se o programa ou a metodologia de trabalho está adequada aos objetivos, permitindo uma reestruturação dos planos.
A questão salarial também foi abordada no questionário. Foi solicitado aos instrutores a sua satisfação com relação ao salário. Os níveis considerados foram satisfeito, pouco satisfeito e nada satisfeito. A maioria dos instrutores (56,92%) estava pouco satisfeita com o salário, 20% estavam nada satisfeitos, apenas 20% estavam satisfeitos e o restante não respondeu (3,08%). Ou seja, 76,92% dos instrutores estavam pouco ou nada satisfeitos com o salário. Esse resultado tem relação com o fato de até recentemente não existir exigência de qualificação profissional para os instrutores de academias, fazendo com que os graduados em Educação Física tenham que disputar mercado com os não graduados ou graduandos, que aceitam qualquer salário por não terem qualificação ou com o pretexto de estágio. Isso faz com que os graduados tenham que se submeter a um salário menor para não perderem espaço. Por outro lado, não podemos descartar os problemas econômicos do país que muitas vezes impedem uma maior remuneração por parte dos empresários.
Considerações finais
Pela análise dos dados coletados verifica-se que, na opinião dos instrutores das academias de ginástica e musculação participantes deste estudo, existe uma especificidade nas funções que desempenham nas academias, portanto exigindo uma preparação específica que é obtida com o domínio de conhecimentos científicos e técnicos que dão suporte à ação de prescrição e orientação das atividades de ginástica e musculação. Porém, a situação dos recursos humanos dessas instituições é precária. Isto porque a maioria deles não tem contrato de trabalho, além de estar pouco satisfeita com o salário; os graduados em Educação Física disputam mercado com não graduados, já que até o momento da coleta de dados não existia controle sobre esse trabalho; a maioria dos instrutores não era graduada em Educação Física, quando da sua contratação; além da graduação em Educação Física, a experiência profissional também não é valorizada, pois existem poucos instrutores com mais de 40 anos de idade e a maioria tem menos de 5 anos de serviço. Além disso, não valorizam os conhecimentos comportamentais e sócio-culturais para a sua atuação profissional.
Entende-se como negativo e preocupante o fato de alguns instrutores graduados em Educação Física considerarem a prática de esportes e/ou atividades físicas mais importante para a capacitação profissional do que a graduação.
Também é preocupante a constatação de alguns instrutores se julgarem pouco preparados para assumirem determinadas funções ou atuarem profissionalmente, pois demonstram ter consciência da sua falta de competência profissional e mesmo assim continuam no mercado de trabalho.
Além disso, alguns instrutores consideram a simples prática das atividades de ginástica ou musculação e as respostas (feedback) dos alunos como formas de atualização. Isso mostra a falta de consciência de quais são os conhecimentos necessários para a sua prática profissional.
Os serviços prestados pelas academias de ginástica e musculação são especializados e exigem recursos humanos devidamente preparados para que elas cumpram o seu papel social. Porém, existem muitos problemas como a preparação profissional inadequada e a contratação de profissionais despreparados.
Espera-se que com a regulamentação da profissão muitos desses problemas sejam solucionados ou minimizados, através da fiscalização das atividades do profissional de Educação Física e de uma preparação profissional mais competente e adequada ao mercado de trabalho.
Contudo, a sociedade concede a uma profissão o devido respeito e valorização apenas quando existe um bom e autêntico relacionamento com ela, baseado na importância e qualidade dos serviços prestados. Além disso, os profissionais de Educação Física que atuam nas academias de ginástica e musculação precisam refletir sobre a sua prática, entendendo que, na sociedade atual essa atividade é importante nos diversos aspectos da vida do ser humano.
Sabe-se que a regulamentação da profissão, por si só, não é suficiente para seu reconhecimento e valorização. É muito mais importante e necessário a competência e capacitação profissional e essa competência só será completa se estiver embasada em um corpo de conhecimentos científico e técnico que dê suporte à prática do profissional de Educação Física que atua nas academias de ginástica e musculação. Para conseguir esse status os educadores físicos devem ser capazes de oferecer serviços confiáveis e de qualidade e ter uma nova postura ética e profissional, que leve à transformações políticas e econômicas (Barros, 2000).
Espera-se que os estudiosos da área, as Instituições de Ensino Superior e os profissionais conformem suas ações no sentido do aprimoramento e valorização dos importantes serviços prestados pelas academias de ginástica e musculação. As IES devem se preocupar cada vez mais com o perfil profissional desejado e direcionar o currículo para esse perfil. Propõe-se um estudo para verificar os resultados da fiscalização dos conselhos regionais e federal no perfil dos profissionais das academias de ginástica e musculação.
Nota
Conferir a dissertação de Mestrado de ANTUNES, A.C. Academias de ginástica e Musculação: preparação de recursos humanos. Rio Claro: UNESP, 2000.
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revista digital · Año 9 · N° 60 | Buenos Aires, Mayo 2003